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Dr. GPT: Prefeitura de Caieiras pretende usar tecnologia de Inteligência Artificial no atendimento médico municipal

A implementação de um sistema de IA no atendimento público não é uma medida negativa. A tecnologia pode contribuir para reduzir o tempo de consulta e trazer eficiência ao trabalho médico. No entanto, sem investimento em infraestrutura, equipes completas e políticas de valorização profissional, soluções digitais tendem a funcionar apenas como paliativo, sem resolver os gargalos reais enfrentados pela população.


A Prefeitura de Caieiras anunciou a intenção de implementar um sistema de Inteligência Artificial para agilizar o atendimento médico na rede municipal. A promessa segue uma tendência nacional de modernização do SUS, como a recém-divulgada solução da empresa OM30, que utiliza reconhecimento de voz para preencher prontuários e promete reduzir em até 40% o tempo de consulta. No entanto, a proposta chega em um momento em que a cidade enfrenta um dos maiores déficits de profissionais da saúde dos últimos anos, além de problemas estruturais que vão muito além da digitalização das consultas.


Caieiras pretende adotar sistema de Inteligência Artificial no atendimento médico, mas município enfrenta falta de profissionais, filas longas, falta de medicamentos e problemas estruturais.
O sistema desenvolvido pela empresa OM30, que utiliza reconhecimento de voz para automatizar o preenchimento dos prontuários médicos, capta a conversa entre médico e paciente, identifica dados clínicos relevantes e gera automaticamente a anamnese no prontuário eletrônico. Imagem gerada por IA

Relatos de moradores apontam que Caieiras sofre com a evasão contínua de médicos da rede pública. Especialidades como fonoaudiologia, psicologia, cardiologia e ortopedia não são oferecidas de forma regular no município. Em algumas áreas específicas, os pacientes aguardam até quatro meses para conseguir uma consulta, período que pode comprometer o diagnóstico e a evolução de tratamentos.

A decisão do Executivo de apostar nesse tipo de tecnologia, ocorre também em meio a questionamentos jurídicos. O Ministério Público ingressou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade alegando supostas irregularidades na criação de cerca de 165 cargos comissionados na área da saúde. A ação levanta dúvidas sobre a forma de gestão do quadro funcional, que já sofre com falta de profissionais e alta rotatividade.


Caieiras pretende adotar sistema de Inteligência Artificial no atendimento médico, mas município enfrenta falta de profissionais, filas longas, falta de medicamentos e problemas estruturais.
O paciente deve ser avisado e consultado sobre o uso da Inteligência Artificial durante a consulta, já que seus dados de saúde são classificados como sensíveis pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)

Moradores também relatam demora no atendimento das farmácias municipais e a recorrente falta de medicamentos básicos. Em alguns casos, pacientes com prescrição em mãos deixam unidades sem receber itens essenciais, como anti-inflamatórios, antibióticos e até medicamentos de uso contínuo. A situação cria obstáculos diários que não podem ser resolvidos apenas com a adoção de ferramentas tecnológicas, por mais avançadas que sejam.


A implementação de um sistema de IA no atendimento público não é, em si, uma medida negativa. A tecnologia pode contribuir para reduzir o tempo de consulta, melhorar a organização dos prontuários e trazer eficiência ao trabalho médico. No entanto, especialistas apontam que, sem investimento em infraestrutura, equipes completas e políticas de valorização profissional, soluções digitais tendem a funcionar apenas como paliativo, sem resolver os gargalos reais enfrentados pela população.


Outro ponto que ainda não foi esclarecido pela Prefeitura é o custo da implantação. Até o momento, não houve divulgação oficial de valores, prazos, forma de contratação ou impacto no orçamento da saúde. Sem essa transparência, fica difícil para a população avaliar o equilíbrio entre o investimento em tecnologia e a necessidade urgente de recompor e fortalecer o quadro de profissionais, além de garantir medicamentos, exames e condições adequadas de atendimento.


Caieiras pretende adotar sistema de Inteligência Artificial no atendimento médico, mas município enfrenta falta de profissionais, filas longas, falta de medicamentos e problemas estruturais.
Cadeiras vazias: Em algumas áreas específicas, os pacientes aguardam até quatro meses para conseguir uma consulta, período que pode comprometer o diagnóstico e a evolução de tratamentos.

O sistema desenvolvido pela empresa OM30, que utiliza reconhecimento de voz para automatizar o preenchimento dos prontuários médicos, capta a conversa entre médico e paciente, identifica dados clínicos relevantes e gera automaticamente a anamnese no prontuário eletrônico, restando ao profissional apenas revisar e validar as informações. Especialistas ressaltam, porém, que esse tipo de ferramenta exige total transparência no momento do atendimento. O paciente deve ser avisado e consultado sobre o uso da Inteligência Artificial durante a consulta, já que seus dados de saúde são classificados como sensíveis pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A ausência de consentimento informado e de explicação clara sobre o funcionamento do sistema fere princípios éticos e legais, além de reforçar que, apesar do apoio tecnológico, a responsabilidade final pelo diagnóstico e pela relação humana no consultório permanece integralmente com o médico.


Caieiras pretende adotar sistema de Inteligência Artificial no atendimento médico, mas município enfrenta falta de profissionais, filas longas, falta de medicamentos e problemas estruturais.
A IA pode até ajudar a organizar o serviço, mas não substitui aquilo que a população mais cobra: atendimento, presença e eficiência real nas unidades de saúde. Imagem gerada por IA

A digitalização do SUS é uma tendência global. Mas, em Caieiras, o debate necessário parece outro: antes de implantar inteligência artificial, a cidade precisa garantir o básico. Com médicos, especialistas e medicamentos em falta, o desafio mais urgente segue sendo humano, e não tecnológico. A IA pode até ajudar a organizar o serviço, mas não substitui aquilo que a população mais cobra: atendimento, presença e eficiência real nas unidades de saúde.


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