Você se lembra da Carrocinha? Uma memória que remete a um passado de tortura e sofrimento animal
- primeiraimpressaor
- há 2 dias
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Atualizado: há 1 dia
Entre os anos 1970 e 2008, a Carrocinha marcou a vida de muitos brasileiros como sinônimo de medo, dor e crueldade contra cães e gatos. Hoje, essa lembrança ecoa como um alerta e reforça a importância de entidades que atuam na proteção e no cuidado com os animais.

Quem viveu em São Paulo nas décadas de 1970, 1980 e 1990, guarda na memória uma cena difícil de esquecer: o veículo conhecido como “Carrocinha” passando pelas ruas e recolhendo cães e gatos. O destino era quase sempre o mesmo, Centros de Controle de Zoonoses (CCZ), onde, em até três dias, os animais eram sacrificados de forma cruel. As práticas variavam entre câmaras de gás, descompressão, injeções letais, choques e em alguns casos, até pauladas eram aplicadas.

O terror era cotidiano: crianças choravam, famílias se revoltavam, vizinhos tentavam salvar os animais. Era uma lembrança de desespero e impotência que atravessou gerações.
Essa situação mudou em abril de 2008, com a Lei Feliciano (Lei 12.916), a matança indiscriminada foi proibida, abrindo espaço para políticas de castração e controle populacional humanitário. Uma virada necessária, recomendada pela Organização Mundial da Saúde, que transformou a forma de lidar com os animais de rua.
Relatos de quem viveu aquela época ajudam a entender o impacto:
"Uma vez a Carrocinha pegou uma cachorrinha na frente da nossa casa. Do outro lado da rua tinha uma escola. Minha mãe gritava tanto que os alunos saíram para a rua e foram ajudar. Com o escândalo, soltaram a cachorrinha, que morreu velhinha" Fátima Aguetoni.
"Quando a Carrocinha apontava na rua, todos nós começávamos a colocar os cachorros pra dentro. Certa vez, laçaram o Neguinho, cachorro de casa. Entramos em pânico e a vizinhança em peso foi ajudar! Por fim, o rapaz soltou o cachorro, que acabou morrendo de velhice. Não gosto nem de pensar! Ainda bem que não tem mais!" Miriam Almeida.
Essas memórias reforçam como o trauma da Carrocinha não foi apenas dos animais, mas também de quem assistia ao sofrimento impotente.
A luta continua: SOPRAC em Caieiras
Se no passado o poder público institucionalizou a violência, hoje, a resistência e o cuidado têm nome e em Caieiras, esse papel é desempenhado pela SOPRAC – Sociedade Protetora dos Animais de Caieiras, fundada em 2003.
Sem fins lucrativos, a entidade atua com resgate, castrações, feiras de adoção e campanhas educativas. Também promove eventos beneficentes e ações comunitárias para arrecadar fundos e manter em funcionamento uma rede de apoio aos animais da cidade.
Iniciativas como a venda de plaquinhas de identificação para cães e gatos, feiras de adoção e campanhas de arrecadação de ração e medicamentos mostram que a luta por dignidade animal continua viva, agora sob o cuidado da sociedade civil organizada.
A lembrança da Carrocinha é dura, mas necessária. Ela nos recorda que a crueldade institucionalizada já foi regra e que só a mobilização social e a criação de leis mudaram o destino de milhares de vidas. Em Caieiras, a atuação da SOPRAC mostra que, embora o terror da Carrocinha tenha ficado no passado, a luta pela proteção e pelo respeito aos animais é um presente que exige continuidade, compromisso e humanidade.
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