Entenda o termo "Cláusula da desgraça alheia" citado na CPI das Bets em depoimento da influenciadora Virgínia
- primeiraimpressaor
- há 18 horas
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A CPI das Bets, instaurada no Senado Federal, jogou luz sobre os bastidores milionários do mercado de apostas online e levantou uma expressão que causou indignação e perplexidade: a chamada "cláusula da desgraça alheia"
O termo, embora não figure formalmente em contratos, foi utilizado para descrever cláusulas que *premiam influenciadores digitais com comissões proporcionais às perdas dos apostadores* que acessam sites de apostas através de seus links ou cupons de desconto. Ou seja: quanto mais uma pessoa perde, mais o influenciador ganha.
O depoimento de Virgínia e a polêmica
No dia 13 de maio de 2025, a influenciadora Virgínia Fonseca, com mais de 45 milhões de seguidores, foi convocada a depor na CPI das Bets. Durante o depoimento, ela afirmou que seus contratos com casas de apostas não previam bônus sobre perdas, mas sim um pagamento fixo e, em alguns casos, metas de performance para gerar engajamento e tráfego. Virgínia declarou ainda que não recebeu nenhum valor adicional além do acordado em contrato e que sempre alertou seus seguidores sobre os riscos das apostas.

Apesar da negativa da influenciadora, a CPI revelou que vários criadores de conteúdo têm contratos que envolvem cláusulas perversas, onde os ganhos do influenciador crescem à medida que seus seguidores perdem dinheiro nas plataformas de apostas. Esse tipo de arranjo foi apelidado de "cláusula da desgraça" por parlamentares.
Influenciadores e cifras milionárias
Segundo informações divulgadas pela própria CPI, influenciadores digitais estão recebendo cifras que ultrapassam R$ 5 milhões por mês para promover plataformas de apostas online. Muitos desses contratos incluem métricas de desempenho baseadas em quantas pessoas se cadastram e quanto perdem nas plataformas.

Entre os nomes citados, além de Virgínia Fonseca, estão outros influenciadores de grande alcance nacional — gamers, celebridades e criadores de conteúdo com milhões de seguidores. A preocupação dos senadores é com a forma como essas figuras públicas influenciam principalmente jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade financeira, sem apresentar os riscos envolvidos.
As vítimas da indústria do jogo
Por trás das promoções chamativas e promessas de "ganhos fáceis", estão histórias reais de sofrimento:

Uma mulher em Minas Gerais perdeu toda a herança de R$ 300 mil deixada pela mãe em apostas online. O vício a levou a um quadro de depressão profunda e a afastou de seus filhos recém-nascidos.
Outro caso, também em Minas, envolveu uma dívida acumulada de R$ 650 mil, culminando em uma tentativa de suicídio. O marido da mulher decidiu expor a história na mídia para alertar outras famílias.
Casos de divórcios, perdas de imóveis e até episódios de violência doméstica têm sido atribuídos ao vício em apostas, que afeta diretamente a estrutura familiar e emocional dos envolvidos.
Um estudo do Procon-SP revelou que quase metade dos apostadores comprometem parte significativa de sua renda com apostas online.
Além disso, investigações apontaram que mais de 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família gastaram cerca de US$ 500 milhões em um único mês com apostas online — um número alarmante que escancara a falta de controle sobre a atividade.
Regulação e responsabilidade do governo
Diante do crescimento acelerado do setor de apostas e das denúncias de práticas abusivas, o governo federal e o Congresso Nacional têm discutido *a necessidade de regulamentar de forma rígida o mercado de apostas online no Brasil*.
A CPI das Bets visa:
Investigar contratos e relações entre influenciadores e casas de apostas;
Propor leis que impeçam o lucro com base em perdas de consumidores;
Estabelecer normas de transparência e responsabilidade na divulgação de plataformas de apostas;
Avaliar a possibilidade de proibir influenciadores de promover apostas em horários de alta audiência ou para públicos vulneráveis.

Um alerta para toda a sociedade
O avanço das apostas online no Brasil expõe uma realidade preocupante: o lucro bilionário de empresas estrangeiras e intermediários está custando a estabilidade emocional e financeira de milhares de famílias brasileiras.
A expressão “cláusula da desgraça alheia” não é apenas uma crítica retórica: ela representa um modelo de negócio onde a miséria de uns sustenta o luxo de outros. O debate iniciado pela CPI das Bets precisa ser ampliado para toda a sociedade.
É hora de questionar: até que ponto vale o engajamento e o dinheiro fácil, quando vidas estão sendo destruídas em silêncio?
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