E se eles falassem?
- primeiraimpressaor
- 4 de abr.
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Neste 4 de abril, Dia Mundial dos Animais de Rua, e se eles falassem? O que diriam à cidade que passa por eles todos os dias sem enxergar?

Carta aberta dos invisíveis da cidade
Hoje é 4 de abril. É o nosso dia. Para vocês, é apenas mais uma quinta-feira — quente, fria ou chuvosa, dependendo do que o céu decidir. Para vocês, talvez seja a data de lembrar que existimos. Para nós, é só mais um dia tentando não desaparecer.
Somos muitos. E não estamos tão longe. Temos nome, mesmo que vocês não saibam. Temos história, mesmo que ninguém conte.
Eu, por exemplo, sou aquele cachorro que dorme atrás da banca da esquina. Já tive dono. Chamava-me Thor, ou algo assim. Quando fiquei doente, deixei de caber no sofá, no carro e no coração. Fui abandonado no acostamento do quilômetro 24 da estrada velha de Campinas. Ainda lembro do barulho da porta fechando.
Eu sou a gata que vive atrás do restaurante. Faço pose na calçada como se fosse dona do quarteirão, mas vivo com medo do chute inesperado. Já pari cinco vezes. Não porque quis. Porque ninguém me impediu.
E eu? Sou uma cadela magra, com olhos fundos e ossos visíveis. Estou prenha, mais uma vez. Ninguém vê, ninguém impede, ninguém ajuda. Apenas uma senhora que me oferece um pedaço de pão seco e sussurra: “Deus te proteja”. Eu agradeço. Mas Deus parece ocupado demais.
Não escrevemos essa carta para pedir piedade. Pedimos responsabilidade. Pedimos políticas públicas. Pedimos que parem de desviar o olhar.
Pedimos que nos enxerguem como parte da cidade. Como parte da vida urbana que vocês desenham — e da qual somos sistematicamente excluídos. Há quem diga que somos problema. Mas nós somos consequência: do abandono, da negligência, da omissão.
Somos os invisíveis com patas. Somos manchete apenas uma vez por ano — no restante dos dias, somos silêncio. Mas estamos aqui. Nos viadutos, nas praças, nos terrenos baldios. Esperando menos discursos e mais ação.
Reflexão que não pode mais ser ignorada
Enquanto políticas públicas são esquecidas, campanhas de castração são cortadas por “falta de verba” e leis de proteção são tratadas com descaso, a população de animais em situação de rua cresce de forma descontrolada. O problema não é apenas ético — é também social, de saúde pública e de urbanismo.
A responsabilidade não é exclusiva dos protetores independentes que sobrecarregam suas casas e contas bancárias. Ela é coletiva — do poder público à sociedade civil.
E você?
Pode fazer mais do que apenas compartilhar uma imagem hoje. Pode denunciar maus-tratos, apoiar ONGs locais, pressionar autoridades, adotar com responsabilidade, ou simplesmente não ignorar.
Porque uma cidade que abandona seus animais, aos poucos, abandona também a sua própria humanidade.
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